TEM A ARTE, ESSE PODER?
Tem certo tempo que esse texto está na minha cabeça, martelando, martelando para ser escrito. Hoje resolvi escrevê-lo.
Era o mês de julho e eu comecei um novo desenho. Percebi logo que ele saia do meu jeito de compor um trabalho.
À medida que ia sendo feito eu via que estava diferente dos demais, sem que eu soubesse a razão. Sentindo uma grande angústia, fui deixando sair. A sensação que eu tinha era a de estar diante de um cortejo fúnebre, como se os pássaros estivessem em posição de reverência por uma catástrofe a se anunciar. Levei mais ou menos cinco madrugadas até terminar. Cinco momentos difíceis! Vale dizer também que durante esses cinco dias, todas as vezes que eu ia com marina, minha filha de dois anos, ao supermercado, ela – que adora colocar produtos variados no carrinho – me trouxe apenas pacotes e pacotes de velas. Eu perguntava para que e ela dizia que eu os levasse para casa. Para evitar suas birras eu concordava e, no caixa, devolvia os pacotes sem que ela percebesse...
À noite, quando enfim marina dorme e me permite trabalhar, eu retomava o trabalho. Eu parava um pouco e retomava logo a seguir. A sensação de peso e uma profunda tristeza voltavam e guiavam minha mão novamente. Tive, por vezes, até vontade de chorar. E assim foi até que eu o concluí. na madrugada do dia 12 de julho.
Pela manhã - quarta feira, dia 13 - ao ligar a TV, vi a notícia da queda, logo após a decolagem – onde morreram 16 pessoas - de um avião que saia do aeroporto de Recife para a cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte.
Vendo as imagens e as chamas, me lembrei das velas. Vendo a fumaça escura, lembrei das ‘vestes’ escuras dos pássaros e suas expressões severas e tristes. A sensação de angústia que me acompanhou durante aqueles dias e madrugadas, repentinamente desapareceu e deu lugar a um sentimento de esvaziamento, como se eu estivesse a murchar...
Paulo Caldas, 20/09/11
Tem
Muito muito lindo esse desenho. Já a história que o acompanha, bem, sabe que sou um pouco medrosa e prefiro não comentar, né?
ResponderExcluirTodo artista é um visionário de outras dimensões...das coisas que vão além da mera realidade...
ResponderExcluirPaulo, fico feliz quando as pessoas me leem pelas palavras, assim como quando me leem pelas imagens. São duas formas de expressão que se entrecruzam e me fazem mergulhar num mundo de acolhimento e felicidade... Um forte abraço e muito OBRIGADA!!!! Volte sempre lá... É um prazer!
ResponderExcluir